1.
minha conta no twitter era mais antiga que o meu casamento.
que a minha carreira.
que meus filhos.
quando loguei pela primeira vez em 2010, motivado pela cobertura da produção do disco Aqua do Angra e por um amigo que abriu uma conta pra ficar gritando “me tuíta!” quando a gente jogava bola na rua (acho que era um bordão do pânico), jamais poderia imaginar que a rede social do passarinho, dos 140 caracteres, que nenhum dos meus amigos via graça porque era só um monte de coisa escrita, ia fazer parte de tantos imbróglios que acabariam por levar ao seu fechamento, ao menos momentâneo, no brasil.
as pessoas só queriam se divertir.
2.
ontem, eu fiquei esperando até de madrugada pela queda do twitter.
lembrei de quando a cultura fm, uma rádio da minha cidade, sairia do ar e passei o dia inteiro ouvindo a última transmissão. uma espécie de funeral. sair por último. apagar as luzes. certificar-se de não ter sobrado nada.
meus planos eram os mesmos para o twitter, mas fui frustrado pela notícia dizendo que a informação anterior sobre o horário do fechamento na madrugada não estava mais valendo. além disso, tinha que trabalhar cedo no outro dia.
quando acordei, abri o twitter. digitei:
“caiu?”
“seu post foi enviado com sucesso.”
ainda não.
me vesti, escovei os dentes, arrumei a mochila, tomei café e, antes de sair de casa, tentei mais uma vez. não carregou.
era o fim.
3.
não se engane.
esse não é um texto nostálgico pra falar sobre como a internet era legal no início. e de todos os momentos mágicos e divertidos que vivi no twitter. a verdade é que eu provavelmente estaria melhor se tivesse passado todo o tempo que estive no twitter fazendo outras coisas. quem pensa diferente disso, deve estar olhando pelas lentes tingidas da nostalgia e cultivar nostalgia é um erro.
no fim do dia, a nostalgia são as inúmeras tentativas de pintar aquele namorado abusivo com aquarelas suaves de cuidado.
mas, de fato, com o passar do tempo, o comportamento das redes sociais evoluiu de forma esquisita. os perfis das pessoas, encantadas com as possibilidades de lucro vendendo produtos digitais escalonáveis, ludibriadas pelo canto da sereia do marketing digital da produção constante de conteúdo, comportavam-se cada vez mais como marcas, empresas, impérios mercadológicos de uma pessoa só.
as marcas, por sua vez, criaram personas, assumiram um tom de voz, um gênero, ideologias, para se comunicarem com o público de maneira eficiente, extraindo de cada seguidor, uma simpatia capaz de motivar muito mais do que cliques em botões de coração e setinhas de compartilhamento.
em 2010, tudo tão impossível de prever quanto os entraves judiciais motivados por uma ruma de decisões corporativas que, assim como tudo o que existe no mundo do interesse, escondem intenções autocráticas faraônicas.
poder cada vez mais.
4.
o ponto principal desse texto talvez seja apenas constatar que, quando eu notei que o twitter não ia mais funcionar, abri uma última vez a caixa de textos e digitei “tchau”, senti um pouco de tristeza — afinal, um hábito de 14 anos em todas as suas transformações estava indo embora.
mas esse é apenas mais um desdobramento aleatório do mundo e talvez nem seja um tão ruim assim.
pro bem e pro mal, nada acaba nunca.
nunca peguei gosto pelo twitter, acredita? entrei tarde, não entendi, saí antes do fim.
tive conta desde 2009 lá kkkk
seu texto me fez lembrar de um video que assisti ha pouco tempo, onde o cara fica passeando por jogos online abandonados. é bem legal. https://www.youtube.com/watch?v=SmRsMK8MXk4